sábado, 9 de março de 2013

O Japão e o seu estilo Musashi de ser

musashi sociedade japonesa

Recentemente, terminei de ler essa obra que é dito melhor representar alguns dos aspectos da história e sociedade japonesas. Escrita por Eiji Yoshikawa (吉川 英治), a obra se baseia na vida do rounin (浪人) Miyamoto Musashi (宮本武蔵), em busca por um caminho de vida que visava se aperfeiçoar tanto físico quanto espiritualmente.
Ambientado no Japão do início do século XVII, o primeiro livro se inicia no momento final da famosa Batalha de Sekigahara (ocorrido em 1600, o fim desse confronto marcou o início do xogunato Tokugawa, que perdurou por mais de 200 anos), em um campo repleto de soldados mortos e feridos, dentre os quais estão um samurai de nome Shinmen Takezo (mais tarde conhecido como Miyamoto Musashi) e Hon'iden Matahachi (amigo de infância de Takezo), pertencentes ao grupo dos samurais derrotados. Após serem perseguidos por aqueles que os haviam vencido em batalha, o acaso e o infortúnio acaba fazendo com que os dois sigam por caminhos distintos. 
Quando finalmente é capturado por um monge de nome Takuan, Takezo é submetido a sua primeira grande provação, e que de certa forma, serve para moldar sua mente e seu espirito para os dias vindouros. Takuan, o monge, o aprisiona em uma torre (cujo seu interior se restringia a uma escrivaninha repleta de livros) para que lá vivesse por alguns anos, entregando-lhe apenas uma lamparina. Ao invés de passar seus anos tendo apenas a escuridão da torre como companhia, Takezo decide utilizar a lamparina buscando o conhecimento e a sabedoria através dos livros. Essa passagem pode ser entendida como uma grande metáfora a vida, que às vezes acaba nos levando a lugares escuros e sem aparente saída, e cabe a nós buscarmos uma luz para que encontremos sabedoria para superar os obstáculos colocados em nossos caminhos.
Depois dessa provação, Takezo deixa de existir e passa a se chamar Miyamoto Musashi, um rounin cuja a peregrinação é voltada para o seu autoaperfeiçoamento. Com o passar dos anos, sua dedicação ao caminho da espada o transforma em um exímio espadachim, o que o faz conquistar admiração e respeito, além de, é claro, alguns inimigos, dentre os quais, está Sasaki Kojiro (佐々木 小次郎), cujo o duelo com Musashi se torna a trama principal do livro.
Como o objetivo desse post não é dar spoilers e sim fazer uma pequena analogia entre Musashi e a sociedade nipponica, vou me limitar a descrever um último trecho do livro que define bem essa comparação.
Há uma conversa entre um grande suserano e um amigo de Musashi, Musou Gonnosuke (夢想權之助), a respeito de que a quem pertencia o melhor kenjutsu (剣術) entre Sasaki Kojiro e Musashi. O suserano diz que a criatividade e a genialidade do kenjutsu quase natural de Sasaki Kojiro era superior ao de Musashi devido ao fato dele ter sido capaz de criar um estilo próprio com tão pouca idade. No entanto, o que tornava a perícia de Musashi tão única e sem igual era ao fato dele reconhecer isso, reconhecer suas limitações e trabalhar duro para superá-las. Assim como Musashi, a sociedade japonesa "passou a fazer parte" do mundo um pouco mais tarde, somente no início da era Meiji em 1868 quando o xogunato caiu e o Japão passou a se relacionar com os outros países.   
Em seu livro (Made in Japan), Akio Morita (盛田 昭夫) - cofundador da Sony, diz que até mais ou menos os anos 50, os produtos japoneses eram considerados ruins, e que os produtos marcados com o "made in japan" (produtos feitos no japão) eram sinônimo de baixa qualidade, e que isso de certa forma o motivara para romper esse estigma negativo que tanto maculava o nome dos produtos japoneses.
Ao analisarmos as empresas de destaque, nos deparamos com empresas japonesas que em sua maioria não foram pioneiras em suas áreas, mas que no entanto, buscaram o padrão de excelência e alcançaram um nível de qualidade tamanho que acabaram se tornando modelo no mercado. Nintendo, Sony, Toyota, Nissan, Honda, além da indústria de animação que conseguiu revolucionar e romper o paradigma existente nas animações da época.
É esse tipo de relação que mostra o quão significativo foi e o é, para o povo japonês, a tradição de manter viva a ideia de reverenciar os antepassados, tentando elucidar-se com seus pensamentos e ideais passados a cada geração, buscando deles sabedoria e motivação para lhe dar com as adversidades. 

Curiosidade (好奇心)

A ideia de trabalhar duro está tão enraizada na sociedade, que existe um verbo na língua japonesa que transmite esse sentimento entre as pessoas de forma quase natural, como parte de um ritual diário. A palavra em questão é ganbaru (頑張る), que é usada no dia a dia pelos japoneses como forma de dizer a alguém para que se empenhe e dê o seu melhor em qualquer atividade a que esse alguém se proponha a fazer.

O termo rounin (浪人) era usado para denominar os samurais sem um senhor. Hoje em dia o termo foi adotado para denominar vestibulandos que não tenham sido bem sucedidos na tentativa de passar no vestibular, mas que continuam tentando.
A palavra tem o significado de "pessoa que vagueia" ou "pessoa errante". O primeiro caractere, rou (浪), significando algo como "errante" ou "andante",  e o segundo, nin (人),  pessoa.

O Xogunato era uma forma de governo na qual o país passava a ser administrado por um líder militar, o Xogum, enquanto o imperador não passava de uma figura simbólica.

Kenjutsu (剣術) -  técnica de espada.    

Os livros




 Livro 1
Musashi
 A terra, a água, o fogo

Características

Páginas: 599 
Editora Estação Liberdade






Livro 2
Musashi
O Vento O Céu

                                   Características 

                                     Páginas: 691
                         Editora Estação Liberdade



                                        
                                         Livro 3
                                        Musashi
                    As Duas Forças, A Harmonia Final

                                Características

                                    Páginas: 498
                        Editora Estação Liberdade



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